Monday, January 26, 2009

Memórias De Um Copo Vazio

Aventura Sexta (VI) – Camião TIR e Outros


Encontrava-me eu refastelado à sombra de uma árvore, no intervalo entre uma má aula e uma tenebrosa aula e eis que que, iluminado por uma luz que me encadeava os olhos (aquela horrível e enormíssima estrela que teima em aquecer o nosso planeta) ele, elemento d, aparece. Disse-me, numa voz calma e ternurenta: “ Eu sou Deus, todo-poderoso, pois ainda nao morri, sou imortal.”
Ainda atordoado pelo estupor do Sol e pela informaçao que o meu cérebro acabava de receber e mal e porcamente processava, ele continua: “ Vou provar-to. « May the Force be with me.»“
De rompante (e nao de repente nao senhor) ele abandonou o recinto escolar e atreveu-se pela estrada fora, onde passava um belo camião TIR. Era um daqueles que se veem apenas nos filmes norte-americanos, vermelho e com dezoito rodas!
Neste mesmo instante, apareceu o elemento e(mo) e exclamou, choroso: “ Porra! Aquele tipo roubou-me a ideia! Era assim que eu ia findar com a minha triste e efémera vida! E agora? Bem, vou cortar os pulsos! Já nao se pode ser original...”
Na estrada, o fantástico exemplar automóvel de transporte de mercadoria nao conseguiu travar a tempo e embateu com toda a força no elemento d! Só então a minha massa cinzenta despertou e eu pensei para com o fecho do meu casaco (diz que já usei botões noutro texto): “Isto é com cada doido!”
Permanecendo eu observante, dei conta que a frente do veículo se desfizera por completo, mas o elemento d ainda respirava. Ele deslocou-se novamente à minha presença e replicou: “ Acreditas agora irmão? ”
Tornei-me crente nos seus milagres a partir desse dia. E desde esse dia ele tem vindo a recolher fãs...
Ok, nao foi bem assim. O tipo de camião nao era aquele.
E, deste modo, conheci mais dois elementos que viriam a fazer parte da tribo.
Obrigado por lerem mais uma aventura. Voltamos assim que o tico resolver fazer as pazes com a flor de cheiro que é o teco!

Notas apensas ao texto:
1 – O elemento e(mo) já nao ouve My Chemical Romance, mas teima em constantemente azucrinar os tímpanos alheios com músicas de uma tal banda de seu nome Green Day.
2 – Estamos neste preciso momento a tentar tornar o elemento e(mo) num homem, mas isto está complicado.

Thursday, January 15, 2009

História Da Parte De Mim Que Morreu


Findado o solitário jantar, senta-se na cadeira de baloiço que, por si e para si, manufacturou e meticulosamente colocou no alpendre da sua penúltima morada.
Vive no interior do país onde nasceu e viveu (?), numa casa de campo que comprou com o dinheiro da venda do seu primeiro livro. Ha quantos anos!
Aos 41 anos está acabado. Pronto para se encontrar com Caronte. Ou talvez uma Valquíria abra uma excepção no seu critério de selecção e o venha buscar e com ela o leve.
Leccionou numa faculdade portuense durante cerca de uma década e durante estes e mais uma mão cheia de anos publicou artigos. Orgulhava-se do seu livro de contos. Macabrice aterradora e horrível. Poucos apreciaram a sua obra, que ele mesmo retroverteu para Latim, numa edição especial que ofereceu a quem bem quis. Uma recordação que pretendeu deixar àqueles de quem gostava.
Vivia agora o fim de um dos seus escritos. Aquele que sempre desejara.
Estava só, no seu lar. Só, na sua vida. Sofria de cirrose e cancro pulmonar e afirmaram-lhe que tinha um par de semanas pela frente. E já vai de velho pensa ele, sem medo do que advirá do parar do coração e do estancar da corrida sanguínea.
Despedira-se de todos. Os da sua tribo. Disse-lhes aquilo que julgou por bem. Tivera tempo para tal. E com todos eles terminou a conversa com o mesmo pedido, que todos respeitaram: deixá-lo morrer na solidão.
E estava sentado na sua cadeira feita de madeira de carvalho. Numa das mãos o cigarro (sempre fumara a mesma marca vermelha) e na outra o copo de vinho tinto, bebida que aprendera a degustar com o avançar da idade e que o presenteara com a doença do fígado. O Chateaubriand que guardara para esta ocasião.
Baloiçava-se, com "House In The Clouds" de Perry Blake como pano de fundo. Os 15 dias que lhe previram atingiam o reduto final. Sentia-se a adormecer. Sabia que chegara o momento. Estava feliz. Nao se arrependia de nada.
“Adeus...” murmurava ele.

17 de Dezembro de 2008 – A piece of me died that day.
Caros leitores, a série "Memórias De Um Copo Vazio" encontra-se parada devido a greve dos argumentistas. Pedimos desculpa e seguiremos dentro de momentos.
Até la, fica aqui um texto de diferente teor.

Um bem haja para vós!