Thursday, September 24, 2009

Memórias De Um Copo Vazio

Aventura Sétima (VII) – Elemento P, “o gajo do giz”

Bem-vindos a mais um capítulo! Haveis sentido saudadinhas? Sim? Não?!? Então ide daqui sem ler. Ide! Desafio-vos a tal!
Hoje apresento-vos o elemento P. Este é um membro assíduo da minha turma desde a primária, tempos em que passava os intervalos não a brincar às bonecas ou a jogar futebol nem tão pouco a correr atrás das raparigas, mas sim a jogar a belíssima consola portátil que todos vós da minha geração conheceis tão bem: o game boy!
Este é o elemento que nos desesperava com repetidos atrasos, deixando-nos esfomeados e prestes a ter um esgotamento nervoso ou uma úlcera. Este elemento é alto, bonito, “tem pinta” e é inteligente. Meninas, babem-se por favor. Meninos, voltem a apertar as calças sim?
E que faz este elemento da vida? Estuda e tem um trabalho importantíssimo e respeitável (qual Clark Kent qual quê!): é o tipo do giz! O quê? Não sabem do que estou a falar? De que nave caíram vocês?
Passo então a explanar-me: imaginem um crime atroz, um assassinato violento que ocorre no passeio de uma qualquer mal frequentada viela ou, em mais extravagantes ocasiões, em bem alumiadas avenidas. O cadáver fica estatelado no chão. A polícia é chamada ao local para recolher provas (esqueçam o Horatio com o pescoço ali todo torto, está mais que visto que ao fim de tantas temporadas ele precisa de fisioterapia).
O elemento P é a pessoa que tem a importante tarefa de delinear a giz a forma como o corpo ficou no cimento, para que, posteriormente, o defunto seja removido. Sem o trabalho do elemento P, o moribundo não vai a lado nenhum. Não é levado do local.
Ora, qual é o senão disto? Quem não quiser saber pode fechar a janela. Boa noite! Para os outros… O senão é que este elemento chega constantemente atrasado e os falecidos chegam a estar vários dias ali no solo, largando um cheiro nauseabundo e levando pontapés de cidadão transeuntes mais distraídos que neles tropeçam ou chutos de semblantes indignados com tamanha porcaria.
Lembro-me de uma altura em que um morador de um prédio se queixou e apareceu inclusive num daqueles canais televisivos sensacionalistas (dos quais são demitidas jornalistas), por não conseguir entrar no seu leito, pois havia 7 corpos amontoados à sua entrada. Havia sido um despique entre dois gangues de surdos sobre qual seria a mais elegante menina que apresenta os programas em linguagem gestual.
À excepção então disto, das piadas secas e sem graça e da sua teimosia em executar truques de magia, o elemento P é uma excelente pessoa.
E aqui foi mais um episódio desta nossa série escrita que em breve passará na televisão. É verdade estimados leitores. Tereis apenas que esperar por 2134, altura em que alguém se aperceberá de que isto até nem é mau de todo, e vereis ser real o que vos afirmo.
Até lá, ide lendo. Não vos custa nadinha!
E como frase de despedida e como linha de pensamento para a semana que se adivinha, deixo-vos as seguintes imaculadas palavras: “Animi lineamenta sunt pulchriora quam corporis.”
Obrigado.
No próximo episódio não percam a receita de bacalhau no forno.
E não se esqueçam que é já no mês de Outubro que o elemento e(mo) pousa “em pêlo” (literalmente) na revista “Bear”.

Monday, January 26, 2009

Memórias De Um Copo Vazio

Aventura Sexta (VI) – Camião TIR e Outros


Encontrava-me eu refastelado à sombra de uma árvore, no intervalo entre uma má aula e uma tenebrosa aula e eis que que, iluminado por uma luz que me encadeava os olhos (aquela horrível e enormíssima estrela que teima em aquecer o nosso planeta) ele, elemento d, aparece. Disse-me, numa voz calma e ternurenta: “ Eu sou Deus, todo-poderoso, pois ainda nao morri, sou imortal.”
Ainda atordoado pelo estupor do Sol e pela informaçao que o meu cérebro acabava de receber e mal e porcamente processava, ele continua: “ Vou provar-to. « May the Force be with me.»“
De rompante (e nao de repente nao senhor) ele abandonou o recinto escolar e atreveu-se pela estrada fora, onde passava um belo camião TIR. Era um daqueles que se veem apenas nos filmes norte-americanos, vermelho e com dezoito rodas!
Neste mesmo instante, apareceu o elemento e(mo) e exclamou, choroso: “ Porra! Aquele tipo roubou-me a ideia! Era assim que eu ia findar com a minha triste e efémera vida! E agora? Bem, vou cortar os pulsos! Já nao se pode ser original...”
Na estrada, o fantástico exemplar automóvel de transporte de mercadoria nao conseguiu travar a tempo e embateu com toda a força no elemento d! Só então a minha massa cinzenta despertou e eu pensei para com o fecho do meu casaco (diz que já usei botões noutro texto): “Isto é com cada doido!”
Permanecendo eu observante, dei conta que a frente do veículo se desfizera por completo, mas o elemento d ainda respirava. Ele deslocou-se novamente à minha presença e replicou: “ Acreditas agora irmão? ”
Tornei-me crente nos seus milagres a partir desse dia. E desde esse dia ele tem vindo a recolher fãs...
Ok, nao foi bem assim. O tipo de camião nao era aquele.
E, deste modo, conheci mais dois elementos que viriam a fazer parte da tribo.
Obrigado por lerem mais uma aventura. Voltamos assim que o tico resolver fazer as pazes com a flor de cheiro que é o teco!

Notas apensas ao texto:
1 – O elemento e(mo) já nao ouve My Chemical Romance, mas teima em constantemente azucrinar os tímpanos alheios com músicas de uma tal banda de seu nome Green Day.
2 – Estamos neste preciso momento a tentar tornar o elemento e(mo) num homem, mas isto está complicado.

Thursday, January 15, 2009

História Da Parte De Mim Que Morreu


Findado o solitário jantar, senta-se na cadeira de baloiço que, por si e para si, manufacturou e meticulosamente colocou no alpendre da sua penúltima morada.
Vive no interior do país onde nasceu e viveu (?), numa casa de campo que comprou com o dinheiro da venda do seu primeiro livro. Ha quantos anos!
Aos 41 anos está acabado. Pronto para se encontrar com Caronte. Ou talvez uma Valquíria abra uma excepção no seu critério de selecção e o venha buscar e com ela o leve.
Leccionou numa faculdade portuense durante cerca de uma década e durante estes e mais uma mão cheia de anos publicou artigos. Orgulhava-se do seu livro de contos. Macabrice aterradora e horrível. Poucos apreciaram a sua obra, que ele mesmo retroverteu para Latim, numa edição especial que ofereceu a quem bem quis. Uma recordação que pretendeu deixar àqueles de quem gostava.
Vivia agora o fim de um dos seus escritos. Aquele que sempre desejara.
Estava só, no seu lar. Só, na sua vida. Sofria de cirrose e cancro pulmonar e afirmaram-lhe que tinha um par de semanas pela frente. E já vai de velho pensa ele, sem medo do que advirá do parar do coração e do estancar da corrida sanguínea.
Despedira-se de todos. Os da sua tribo. Disse-lhes aquilo que julgou por bem. Tivera tempo para tal. E com todos eles terminou a conversa com o mesmo pedido, que todos respeitaram: deixá-lo morrer na solidão.
E estava sentado na sua cadeira feita de madeira de carvalho. Numa das mãos o cigarro (sempre fumara a mesma marca vermelha) e na outra o copo de vinho tinto, bebida que aprendera a degustar com o avançar da idade e que o presenteara com a doença do fígado. O Chateaubriand que guardara para esta ocasião.
Baloiçava-se, com "House In The Clouds" de Perry Blake como pano de fundo. Os 15 dias que lhe previram atingiam o reduto final. Sentia-se a adormecer. Sabia que chegara o momento. Estava feliz. Nao se arrependia de nada.
“Adeus...” murmurava ele.

17 de Dezembro de 2008 – A piece of me died that day.
Caros leitores, a série "Memórias De Um Copo Vazio" encontra-se parada devido a greve dos argumentistas. Pedimos desculpa e seguiremos dentro de momentos.
Até la, fica aqui um texto de diferente teor.

Um bem haja para vós!