Friday, August 3, 2007

Diálogos Com O Subconsciente – Tormenta

Lentamente, enquanto vai sendo queimado o cigarro que saboreia, tenta escrever.

O quotidiano citadino quer o mata, quer o diverte.

Possuidor de olhos rudimentares, vê para além das criaturas que na metrópole se degladeiam por estados espiritualmente superiores.

Ah! A eterna busca da nunca encontrada e nunca subserviente felicidade. Aquela que se desgasta num ápice equivalente a micro-segundos e nos escapa por entre os dedos.

- ‘ E depois? ’

- Depois as lágrimas. Como a água que jorra da cascata!

Observando realmente os seres pensantes, alcunhados de racionais e Humanos compreende que não está só. Apenas as crianças, ainda desprovidas de consciência, não procuram algo.

- ‘ Mas o quê? ‘

- Ah! Se cada um de nos soubesse… Se soubesse sequer onde procurar…

E o vazio volta a invadi-lo. Uma sensação familiar de desconforto e inquietação.

- ‘ O que podemos fazer por ti? ‘

- Deixar-me partir…

8 comments:

Anonymous said...

eu sou uma criança...é pena nao ser desprovida de consciencia!
oh Isso sim seria perfeito!
Somos todos criaturas vazias, a procura de algo...a vida e isso mesmo a procura de algo...muitas vezes mesmo nao sabendo o que...é por isso que a vida quase sempre nao faz sentido.

E em vez de desistirmos, continuamos a procurar mesmo sabendo que nunca algo ha de nos preencher totalmente...tudo e momentaneo. nunca niguem e feliz para sempre. I don't belive in fairy tales anymore...

We are so fucking blind creatures...so ambiciamos aquilo que nao temos, aquilo que esta longe. inalcansavel

Resignei-me, decidi-me estagnei! Eu quero ser feliz e tu? ser feliz com o que tenho. o Pouco que tenho!

Tenho-te a ti irmao, isso e uma certeza.

o texto ja o tinha comentado, sabes o que penso do que escreves, apeteceu-me apenas deixar uma marqinha tao pequenita quanto eu :) *

Sara Costa said...

Felicidade...
Essa mesma felicidade que cuidamos e acarinhamos e que acaba por nos fugir por entre os dedos sem vermos forma de a prender, agarrar.
Era feliz a vida [?] se podessemos agarrar as felicidades, guarda-las e senti-las sempre que tivessemos sós ou sentissemos saudades delas.
Mas isso não aconteçe... elas fogem como quem teme a eternidade... fogem e levam sonhos com elas, sonhos que acabam por se perder pelo "caminho", que se desmancham, despedaçam e também eles fogem... mas, porém, partes ficam, pedaços despedaçados de sonhos que se foram, que se perderam e que provavelmente nem voltam... a isso chamamos esperança...

[És livre de partir!
Vai!
Sê livre!
Consome a tua liberdade!
Respira-a!
Mas... vais em busca de quê?]


[Beautiful my friend :)]

Anonymous said...

Queres "partir para ficar"?

Os estados de abandono ainda não largam as almas atormentadas. Não-ser não é uma escolha.

Essa busca da felicidade não sei se algum dia deixará de existir.
Não existe "ser-feliz", existem momentos de felicidade. Muito de vez enquando. Por vezes duram, mas sempre acabam. Restam os estados de algum contentamento.

Nada será alguma vez para sempre.

"I can't remember when it was good
moments of happiness elude
maybe I just misunderstood"

S.W.

Anonymous said...

" Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-a!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo, sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!


Ó céu azul – o mesmo da minha infância –,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo…
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! "

Anonymous said...

" O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço... "

Anonymous said...

" Ah, onde estou ou onde passo, ou onde não estou nem passo,
A banalidade devorante das caras de toda a gente!
Ah, a angústia insuportável de gente!
O cansaço inconvertível de ver e ouvir!

(Murmúrio outrora de regatos próprios, de arvoredo meu.)
Queria vomitar o que vi, só da náusea de o ter visto,
Estômago da alma alvorotado de eu ser... "

j. said...

claro que as crianças procuram algo. simplesmente procuram-no inconscientemente, e de forma pueril e inocente, e não pensada e agoniada como nós.

j. said...

voltei cá porque me lembrei de que nietzsche uma vez disse,

' no dia em que me cansei de procurar, aprendi a encontrar'.

pronto.